terça-feira, 1 de junho de 2010

A RAZÃO DA DESRAZÃO-III

1-2 - aaa-ml-er3>

4 de Julho de 2005

MAIS UM DIA NA CONTAGEM DECRESCENTE

«Chover no molhado» : é como leio «O Livro Tibetano da Vida e da Morte», de Sogyal Rinpoche, ed. Prefácio, com prefácio do Dalai Lama, 2 de Junho de 1992.
Para um maníaco-depressivo crónico como eu, para um melancólico agravado como eu, vejo com certa indiferença e talvez irritação esta crítica que Sogyal faz aos ocidentais de não pensarem no momento imprevisto da morte prevista inevitável.
Não faço eu outra coisa, amigo Sogyal e não vejo que tenha adiantado grande coisa. O problema será francamente outro, se falho no caminho da iniciação.
Poderei situar em 1977 o meu contacto pleno com o budismo tibetano, na viagem aos Alpes e nos artigos que escrevi sobre a viagem e o Lama Kunzang Dorje.
Samsara foi uma palavra que entre outras aprendi, mas que já conhecia antes de conhecer a palavra.
Acho que nunca procurei perseguir outra coisa e pelos vistos sem resultados práticos: atingir o essencial para lá do acessório.
Há sempre uma causa que me distrai: nisso tens razão, Sogyal. Arranjo todos os pretextos para fugir à responsabilidade de encontrar o caminho iniciático. Para lá do místico que se me tornou exíguo , que se me ficou em S. Francisco e não chega. E agora? Para onde vou?
Em 1992, Etienne Guillé parecia ser o caminho definitivo. Mas tudo ruiu ou talvez não. Ficaram os metais e a alquimia da célula, não sei portanto se caminho às escuras para a iluminação. O Carlos Filipe viu melhor do que eu: ao usar, na minha biografia, a palavra compaixão, acertou no centro do meu centro espiritual.
O Carlos Filipe tem uma alma capaz de radiografar a espessura da minha.
O que eu próprio teria dúvida em aceitar - viu-o ele.
Menos sentencioso do que Krishnamurti mas igualmente psicomoralista, este amigo Sogyal quando promete a iluminação para todos: ele fala dos que se encontram atados aos apegos do samsara.
Mas até agora (página 62) ainda não vi que ele desse a receita aos que, perdendo todos os apegos (não chegando a querê-los)se queixam de a eles voltar para continuar a acordar vivos todos os dias.
Sogyal dirige-se à maioria dos «exaltados» seres que gostam disto mais do que um macaco de bananas. Mas nem sequer imagina os que não gostando disto precisam de recorrer aos livros como este e aos autores como este para entreter o tédio profundo de mais um dia na contagem decrescente.
Estou a falar com 62 páginas lidas.
Mas ainda tenho até à 477 para encontrar uma explicação!!!. Chiça! 477 páginas para adquirir a iluminação.
Nos teóricos da iniciação é o que me desespera : que eles descubram sempre motivos de esperança naquilo que é francamente desesperante nisto de existir.
Teimo em pensar que a iniciação ensinada por Sogyal não é mais uma ilusão a juntar às ilusões do samsara em que ele é perito!
Se a iluminação se merece, pode bem ser que eu não a mereça mesmo.
E nesse caso nenhum dos livros que coleccionei na rubrica -CI = ciência iniciática - me valerá de alguma coisa.
São apenas mais uma prateleira da minha mania coleccionista que me ocupa o vazio dos meus vazios.
Sinceramente, Sogyal, quando falas de vazio, não sei do que falas.
Gostaria que me ajudasses, foste-me indicado pelo guru Vítor Quelhas, mas.■