domingo, 2 de janeiro de 2011

PLANÈTE E PENSAMENTO PLANETÁRIO-I


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planète-2> notícias do futuro

INVESTIGAÇÃO PROSPECTIVA (*)

Em declarações prestadas à revista «Le Nouveau Planète» (nº16, de Maio último) Henri Bianchi, director do Centro de Investigação «Science et Vie», em Paris, fala deste novo grupo de trabalho e dos objectivos que se propõe nos domínios da previsão e da prospectiva.
Pronunciando-se sobre Bertrand de Jouvenel, um pioneiro da futurologia quando ela era ainda uma palavra vaga para a maioria das pessoas, Henri Bianchi confessa a sua admiração pelo autor de «L'art de la Conjecture» e acentua não a divergência mas a diferença existente entre o Centro «Science et Vie» e as actividades de Bertrand de Jouvenel, através das suas revistas «Futuribles» e «Analyse et Prévision».
«Penso que nos situamos em terrenos completamente diferentes - acentua - no sentido que queremos dar à aplicação.
«Bertrand de Jouvenel, no plano de actividade do grupo «Futuribles» e do Centro de Estudos sobre o Futuro da Faculdade de Direito, reúne e põe à disposição dos investigadores uma soma de informações.»
Diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos, antigo aluno da Escola Prática de Altos Estudos, Henry Bianchi explica assim o nascimento do novo centro prospectivo:
«É um grupo de Imprensa («Science et Vie», «L’Action Automobile e Touristique», «Moteurs», etc), que tomou a iniciativa de financiar uma investigação perfeitamente desinteressada. A forma jurídica do Centro é a de uma associação de fins não lucrativos. Trata-se de um organismo privado. Com efeito, somos um pequeno grupo de 5 investigadores multidisciplinares e o que nos guiou desde a partida foi, antes de mais nada, o cuidado de adoptar uma reflexão própria sobre as alternativas da evolução social, tomando-se este termo na mais lata acepção.
«Convém acentuar que existe uma previsão tecnológica, uma previsão económica, uma prospectiva urbana, etc., apoiando-se sobre uma reflexão científica e sobre métodos precisos - enquanto uma prospectiva social global se situa ao nível da filosofia. É esta a razão pela qual as teorias existentes da evolução social são objecto de controvérsia».
«Em contrapartida e sob a pressão dos acontecimentos, quer, dizer, das tomadas de consciência e das necessidades que nascem da sociedade contemporânea, esta prospectiva social torna-se, de ano para ano, mais necessária . Ao mesmo tempo que se manifesta um cuidado voluntarista, há a necessidade de escolher vias de evolução, de lhe fixar os fins, mais do que fazer teoria.»
Ainda Bianchi; «O nosso primeiro trabalho de investigação é completamente experimental: uma tentativa de estabelecer um sistema de indicadores sociais. Esta experiência foi realizada, no que respeita ao tratamento da informação, no Centro de Cálculo Franlab (filial do Instituto Francês do Petróleo) com o qual continuaremos a colaborar em contratos para estudos ulteriores. O nosso sistema de indicadores designa-se por «Modelo Futuro», (Modèle Avenir).
E mais disse Bianchi: «O que queremos sublinhar neste nosso eco (breve) é, por um lado, o escasso número de pessoas (cinco) que puseram de pé o Groupe de Recherches Science et Vie e, por outro, o solícito mecenato de duas empresas puramente comerciais que lhe derem apoio: empresas comerciais mas que conhecem o valor das ideias, da investigação, do pensamento e da inteligência até no campo das aplicações práticas ou dos lucros a multiplicar. Empresas que já sabem hoje que o melhor investimento do presente está no futuro e na arte ( difícil mas possível) de o imaginar.»
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(*) Este texto foi publicado no diário «O Século» (Lisboa) , na coluna do autor «Etapas para o Ano 2000», em 29/7/1970

planète-5> o movimento das ideias - para a história das ideias - em demanda do novo paradigma

«PLANÈTE» E PENSAMENTO PLANETÁRIO (*)

Entre outros textos decisivos para esclarecimento do tema proposto - Liberdade e Alienação no Pensamento Contemporâneo - o número 7 da colecção Cadernos do Século publica o de André Amar, «Que é o Pensamento Planetário», aí historiando a génese, o desenvolvimento e eclosão do que hoje é considerado a vanguarda do pensamento europeu.
O «realismo fantástico», aberto com o livro-manifesto Le Matin des Magiciens (1), constitui um dos momentos importantes dessa vanguarda, assim como a revista Le Nouveau Planète que, sucedendo-se aos números da Planète, vai no seu número 20 (Dezembro de 1970).
André Amar fez parte da equipa redactorial da revista, na sua primeira série, e encontra-se particularmente habilitado para enunciar a síntese desse neo-utopismo a que alguns pensadores (de procedências políticas tão várias) hoje vão dar, desde Edgar Morin a Henri Lefèbvre, de Roger Garaudy a André Gorz, de Danilo Dolci a Josué de Castro, de Gaston Berger a Louis Armand.
Antigo aluno da Escola Normal Superior, André Amar é professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, desde 1948 e o seu estudo, neste Instituto, incidiu sobre história da filosofia europeia. Hoje preocupam-no, principalmente, as consequências políticas e sociais do desenvolvimento científico, preocupação-chave do já referido «realismo fantástico», baptizado também de pensamento planetário.
Mas planetário porquê? Não apenas porque foi na revista Planète que esse espírito encontrou uma das suas mais brilhantes expressões, e onde nasceu a sua sistematização, mas porque se trata, de facto, de uma universalidade de campos, processos, objectivos e interesses pela primeira vez reconhecidos como motor de toda a acção prática. Uma nova antropolítica, como recomenda Edgar Morin?
O conhecimento e reconhecimento de todas as culturas da terra, não só o respeito mas o amor activo por elas e a comparticipação nelas desde dentro (La Pyramide Humaine, filme de Jean Rouch, guiado por Edgar Morin, paradigmatiza esse espírito desde dentro), encontra-se entre os tópicos centrais do que André Amar denomina «pensamento planetário».
«A expressão - explica ele - nasceu há alguns anos, aqui mesmo na Europa. Se esta expressão não é um vocábulo efémero, ela tem antecedentes e, por consequência, deve situar-se na linha de evolução do pensamento ocidental.»
Mais decisivo na definição do arquiagressor Ocidente, Amar escreve:
«Sejam quais forem as variações do pensamento ocidental moderno, há um tema fundamental que permanece: a civilização ocidental posta em dúvida pelo pensamento ocidental. E este tema que, prolongado, conduz ao pensamento planetário.»

Quer dizer: o melhor do pensamento ocidental, como sublinhara Malraux, caracteriza-se hoje pela sua auto-contestação. São os próprios herdeiros do sistema que o criticam e o põem em cheque.
Para justificar o que há de neo-utopismo e de neo-misticismo no novo pensamento, André Amar é bem claro:
«Um pensamento que se deseja rigoroso e que recusa ser somente uma confusa aspiração nostálgica, não pode fazer como se a axiomática matemática, a fisica do átomo, a psicanálise ou o marxismo não tivessem jamais existido. O espírito não se encontra senão no Ponto de Convergência de todas as vias da inteligência.»
O que Le Matin dos Magiciens e os escritos de Planète não cessam de lembrar, é que o Ponto de Convergência é a fusão final da álgebra, da poesia, da estética, da fisica, da mitologia.
«O fantástico é assim a primeira etapa no itinerário do pensamento, mas o fantástico não é jamais senão a figura insólita do real e entra na ordem quando a inteligência se apodera dele.
«Pensar é preservar o Ponto de Convergência. Que ele seja abandonado, o pensamento estiola e morre.»
Com tal programa ecuménico e prospectivante, não admira que a revista Planète, dirigida por Louis Pauwels, tenha sido tão mal compreendida pelos imobilistas e obscurantistas de todos os quadrantes, incluindo o surrealista e o racionalista. Em todo o Mundo e também por aqui, tão ocupados andam os homens de acção com os sistemas locais, que nada podem nem querem ver dos movimentos de ideias que, antes de mais e acima de tudo, relevam de uma universalidade planetária.
Contra o imobilismo das instituições culturais, educativas e de ensino, das escolas filosóficas e dos institutos de investigação (onde o conhecimento está na posse de alguns para proveito de poucos mais), contra os círculos fechados e académicos, Planète e o pensamento planetário proclamam a necessidade de fazer contactar todos os sistemas estanques (cientistas com proletariado intelectual).
Não admira que os redutos do imobilismo, as cidadelas da ciência oficial, as ortodoxias imperantes, o espírito de sistema e o imobilismo, a dogmática e a escolástica, o bom senso e o senso comum, desencadeassem uma reacção em torrente contra a filosofia do movimento e contra o movimento de todas as filosofias. Que reagissem, prestes, contra esta «exoterização» das suas afinal ocultas ciências. Planète, que também se tem proposto reabilitar o que na tradição ocultista houve de avanço e conhecimento, recusa-se a fazer da ciência oficial uma sabedoria só para eleitos ou iniciados. Porque a ciência oficial é que se tem instaurado - pela falta de universalidade e de planetarismo ecuménico... - em ciência oculta e hermética.
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(1) O Despertar dos Mágicos, de Louis Pauwels e Jacques Bergier, em tradução portuguesa de Gina de Freitas e edição da Bertrand, aparece em 1960, na edição da Gallimard, marcando aí uma data decisiva ao pensamento planetário.

(*) Este texto foi publicado parcialmente no diário «Notícias da Beira, (Moçambique) na rubrica do autor intitulada «Notícias do Futuro», em 6/2/1971, e no semanário «O Século Ilustrado» (Lisboa), na rubrica do autor intitulada «Futuro», em 6/2/1971

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