sexta-feira, 20 de julho de 2012

A GÉNESE DO PENSAMENTO MODERNO


1-1-mezei - gato leitor – revisão: 2001-12-27

8-2-1992

DA PATAFÍSICA AO SURREALISMO

É talvez um lapso bastante reprovável que o livro «Le Matin des Magiciens» nunca cite Alfred Jarry nem tenha salientado a importância da Patafísica (por ele fundada como «ciência da excepção») para o realismo fantástico de que aquele livro é manifesto. Em contrapartida, dedicam os autores -- Louis Pauwels e Jacques Bergier -- bastante espaço e muito justamente, a Charles Fort, outro autor que procurava nos EUA o que Jarry procurava em França: a ciência da excepção ou ciência do particular. Deveria estudar-se este paralelismo entre o autor de «Gestes et Opinions du Docteur Faustroll» e o autor do «Livro dos Danados».
«O movimento assimétrico e espiral (...) anima os mais importantes símbolos de Jarry» -- escrevem Marcel Jean e Arpad Mezei na sua obra «Génèse de la Pensée Moderne». Seja ou não assim, deve registar-se esta observação e relacionar-se com o parentesco descoberto por Ruy Launoir em «Clefs pour la Pataphysique»(Ed. Seghers): «Porque será que o único estudo do Doutor Sandomir especificamente dedicado à «Prospectiva» se intitula «Michel Nostradamus ou L'Avenir est-il un Poème?». Contrariamente ao que um positivismo apressadamente compreendido poderia levar a crer, o método divinatório de Nostradamus não aparece como uma compensação imaginária à impotência que resultaria do desconhecido das leis da natureza e da história» (...)
O método prático de Nostradamus, cuja eficácia tem sido regularmente reconhecida, ironiza indirectamente sobre a precariedade das previsões da ciência moderna, incapaz de reconhecer o imaginário e a aberração, nela e fora dela, para deles fazer uso conscientemente.
Registem-se duas curiosas coincidências: «Tautologias» é o título de um livro do poeta Raul de Carvalho e a noção de «tautologia» é uma das mais importantes para entender a Patafísica «doutrinada» por Alfred Jarry.
«O Amor em Visita», poema de Herberto Helder, é o título de uma obra de Alfred Jarry, que não está longe de inspirar alguns dos postulados a que a obra de Herberto pode referir-se: a obra e principalmente a sua estranha personalidade de sempre «marginal».

AFONSO CAUTELA